domingo, 4 de setembro de 2011

Como tornar a música na escola uma realidade?

Entre à falta de profissionais, estrutura e incertezas sobre a aplicação, escolas tentam efetivar lei 11.769


No Caic Maria Felício Lopes, cerca de 80 crianças e adolescentes contam com aulas de música. Mesmo quem não segue carreira musical leva a experiência para a vida
ALEX COSTA
Em 2008, entrou em vigor a lei 11.769, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música no Brasil. O prazo para que as escolas se adaptem às exigências termina este ano. No Ceará, a falta de profissionais e de estrutura física são alguns dos desafios para que a música se torne parte do currículo.

A lei coloca que "a música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo" do ensino de artes. A ideia não é formar musicistas, mas despertar habilidades como coordenação motora, disciplina e sensibilidade artística. Mas a queixa entre educadores e secretarias de educação é que a lei foi estabelecida num prazo aleatório e sem levar em conta o cenário nacional.

Segundo Arlindo Araújo, coordenador do Ensino Fundamental e Médio da Secretaria Municipal de Educação (SME), no último concurso a ideia era abrir 260 vagas para professores de arte, mas apenas 68 vagas foram ofertadas no edital. "As agências de formação não fornecem profissionais suficientes. Hoje, dos nossos 170 professores de arte, 32 possuem formação específica em música".

A alternativa encontrada foi trabalhar com graduandos em música, por meio de oficinas de musicalização. O coordenador ressalta o investimento de R$362 mil da SME na compra de instrumentos para as 280 escolas de Ensino Fundamental, além da aquisição de 263 bandas de fanfarra, cuja contrapartida municipal foi de cerca de R$ 880 mil.

"Mas ainda temos outras questões. As escolas não possuem estrutura para ofertar as aulas, como salas com tratamento acústico, e o barulho acaba interferindo nas outras atividades", reconhece.

Formação específica
Fortaleza possui atualmente duas Licenciaturas (para formação de professores) e um curso técnico em Música, mas o número de graduados ainda é insuficiente para atender à demanda aberta pela lei. Tal carência fez com que o artigo da lei que limitava o ensino aos profissionais com formação específica fosse vetado.

O curso da Universidade Estadual do Ceará (Uece), aberto em 1975, forma uma média de 12 alunos por semestre. Já a licenciatura da Universidade Federal do Ceará (UFC), que funciona há cinco anos, atualmente forma uma média de 12 profissionais por ano, já que o pequeno número de professores do curso limita a formação de turmas semestrais.

"Há uma certa razão das escolas, mas na prática há pouca valorização das artes no currículo. Não adianta formar 30 profissionais por ano se as escolas não oferecerem bons salários e condições de trabalho", pondera Gerardo Silveira Júnior coordenador do curso de Música da UFC. 
Aplicação

Outro problema são as disparidades na utilização da música em sala de aula, que pode ir do ensino de música e teoria musical no contra-turno ao uso de canções como suporte para aulas de Português ou História.

O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Estado (Sinepe), Airton Oliveira, afirma que a música está inserida na maioria das escolas privadas cearenses e em todas as unidades de Fortaleza. Mas como não é uma disciplina, cada escola tem a liberdade de traçar como a música será inserida no projeto pedagógico.

"Em 2010 fizemos uma pesquisa junto a 400 escolas privadas, e em 8% delas havia professores de música, o que já esperávamos. Algumas escolas já contratavam professores de música por períodos sazonais, e outras aproveitavam profissionais de outros áreas com habilidade em música", comenta.
Inserção
8% das escolas particulares cearenses têm professores de música, segundo pesquisa do Sinepe. Algumas contratavam sazonalmente ou aproveitavam quem tinha habilidade musical.
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE

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